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Paisagem

Género

A paisagem como género é a representação de uma cena natural não subordinada à descrição de uma história. Os artistas pintam a natureza desde os tempos antigos, mas na arte ocidental, este tema foi considerado um assunto menor até á pintura da idade de ouro holandesa.

Ao longo dos séculos, os artistas utilizaram diversas técnicas na representação da paisagem para corresponder às mais variadas necessidades comunicativas. Na arte egípcia e mais tarde na grega, existem exemplos de paisagem ou elementos tirados dela, como em paisagem nilótica em papiro encontrada na tumba de Menna (c. 1420 BC), ou nos frescos de Akrotiri, (c. 1500 BC) com um tema do rio.

Na arte romana, este género começou a adquirir caráter autónomo. Os romanos pintaram paisagens para decorar as paredes da domus (tipo de casas ocupadas pela classe alta) com cores vivas e cenas cheias de detalhes realistas, como nos frescos da Villa de Livia (antes de 79 AC), situada em Pompeia, que representa um jardim próspero.

Na arte cristã primitiva, até á Idade Média, não havia exemplos autónomos de paisagens. Na arte oriental e bizantina, os elementos naturais foram quase eliminados, substituídos pela folha de ouro como pano de fundo das cenas, e na arte ocidental, as paisagens tornaram-se um pano de fundo irreal. A natureza era considerada apenas de um ponto de vista simbólico; as paisagens eram abstratas, planas e sem perspetiva de espaço, como pode ser visto nos mosaicos de Sant' Apollinare in Classe (meados do século VI), em Ravenna.

A evolução da paisagem no Oriente tomou outro rumo. Entre os séculos X e XI, na pintura chinesa, o tema da paisagem evoluiu para um género mais realista: montanhas, vales, rios foram pintados com frequência, em materiais diversos e com formatos diversos, desde os rolos decorativos até pinturas reais, como podemos ver em Limpando o céu de outono sobre montanhas e vales (1072) por Guo Xi.

No Ocidente, durante o século XIV, na Toscana, a representação da paisagem voltou a ser realista, influenciada pela figura de São Francisco e o seu poema Il Cantico delle Creature (1224). Este poema era uma ode a Deus, em que o Santo o louvava por tudo o que criou, como os elementos naturais, animais, plantas e frutos da terra. Esse poema ficou tão famoso que influenciou a arte italiana e ocidental, trazendo de volta a realidade da natureza aos olhos dos pintores, que passaram a representá-la de forma mais realista.

No Gótico Internacional, essa tendência espalhou-se pela Europa. A paisagem permaneceu como pano de fundo, mas era rica em detalhes e consistente em dimensões. Assumiu o papel fundamental de mostrar a obra do homem e o seu domínio sobre a natureza, imagem da atividade criadora de Deus que, no início do Génesis, criou a realidade natural e o jardim do Éden. As paisagens medievais representavam a vida nas cidades e o trabalho no campo, como em Efeitos do bom governo na cidade (1338-39) e em Efeitos do bom governo no campo (1338-39) de Ambrogio Lorenzetti.

Durante o Renascimento, a representação da paisagem adquiriu novas caraterísticas técnicas e formais. Os artistas melhoraram a representação realista da natureza usando a inovação tecnológica. A invenção da perspetiva geométrica linear por Filippo Brunelleschi fez com que as paisagens ficassem mais próximas do mundo real, como nos frescos pintados por Masaccio na Capela Brancacci (1424-28). A paisagem tornou-se parte integrante das pinturas. Foi usada por artistas como um lugar para uma linguagem simbólica: Piero della Francesca, na Ressurreição do Santo Sepulcro, (1450-63) comunica a vitória de Cristo sobre a morte com a passagem entre árvores nuas e árvores floridas.

Em seguida, a perspetiva aérea estudada por Leonardo da Vinci, introduziu na arte a perceção da atmosfera, da humidade do ar e do progressivo afastamento e esbater das cores. A sua Virgem e o Menino com Santa Ana (c.1503) é uma das obras-primas onde aplicou com excelência esta técnica, para pintar a cordilheira ao fundo. Com Giorgione no seu quadro Tempestade (c.1506), a arte italiana descobriu a possibilidade de "representar coisas vivas e naturais sem desenhar perspetiva", como escreveu Giorgio Vasari.

Ao mesmo tempo, na Europa central e do norte, os mestres flamengos como Jan Van Eyck Adoração do Cordeiro (1432) ou Joachim Patinir, Paisagem com São Cristóvão (c. 1520), deram um novo rumo á representação da paisagem. Eles registaram num minuto os detalhes com cores brilhantes, usando uma nova invenção: a pintura a óleo.

No século XVI, a paisagem tornou-se gradualmente o principal protagonista das representações, mas foi apenas no século XVII que se tornou um género autónomo. As regras apertadas da Contra-Reforma influenciaram a arte, condenando os seus aspetos decorativos e anti morais. As grandes descobertas astronómicas, a partir de Galileu, mudaram a visão do homem e a sua relação com o mundo e o universo, mostrando a majestade do cosmos. A pintura de paisagens explodiu: este género era neutro no seu conteúdo e servia para mostrar novos conhecimentos. Mesmo nas cenas bíblicas, a trama sagrada tornou-se uma pequena porção das pinturas, dando espaço à representação da natureza e do universo, observada e pintada nos seus detalhes vívidos, como na obra de Adam Elsheimer, que em A fuga para o Egito (c. 1609), imprimiu na tela a primeira visão da Via Láctea.

No entanto, a aceitação oficial da pintura de paisagem nas Academias de Arte aconteceu por causa do francês Pierre-Henri de Valenciennes. Em 1800, publicou o livro Elements de perspective practique, que perseguia o ideal estético da paisagem histórica, que se deveria basear no estudo da natureza real. As gerações seguintes de pintores franceses dedicaram a sua arte à paisagem: o exemplo mais significativo foi Jean-Baptiste-Camille Corot. Entre as suas paisagens proeminentes estão A ponte em Narni (1826) ou a Vista da Floresta de Fontainebleau (1830).

No início do século XIX, com a disseminação do Romantismo, o género da paisagem transmitiu a visão romântica da natureza, captada segundo a ideia do "sublime" natural. Ele via a natureza como uma força superior ao homem, captada em toda a sua majestade, o que gera admiração e atração pelo seu poder. Podemos observar isso nas pinturas de Caspar David Friedrich, como Abadia no Carvalhal (1809), ou Penhascos de giz em Rügen (1818).

Ao mesmo tempo, em Inglaterra, William Turner exibiu as suas pinturas na Royal Academy. Em telas Tempestade de neve (c.1842), ou O Lago, Petworth, Pôr do sol; Exemplo de estudo (c.1827-28). A abordagem de Turner à luz e à cor foi tão revolucionária que o artista é lembrado como o "Pintor da Luz".

Nos últimos 30 anos do século XIX, as invenções da revolução industrial refletiram-se nos movimentos culturais da época. O nascimento da fotografia permitiu a reprodução fiel da realidade e juntou-se à pintura como uma nova técnica artística. A invenção das tintas num tubo permitiu que os pintores trabalhassem en plein air (ao ar livre). O desenvolvimento urbano mudou a paisagem, criando novas vistas. A pintura de paisagens tornou-se, portanto, um dos géneros mais populares, especialmente entre os impressionistas, como Monet, Manet, Pissarro, Renoir e Sisley. Eles professavam a observação direta da paisagem e usavam técnicas rápidas para captar a mudança de luz durante o dia e a noite. Uma das paisagens mais famosas do grupo foi Impressão, Nascer do sol (1872) por Monet, que se tornou a fonte do nome do movimento. As suas obras abriram o caminho para a paisagem revolucionária pós-impressionista, Van Gogh, Gauguin e Cézanne.

No início do século XX, a representação da paisagem na arte mudou novamente com os movimentos de vanguarda, que procuravam romper com a tradição e as normas técnicas. No Cubismo, a paisagem era um dos assuntos principais. Junto com as naturezas mortas e o retrato, a paisagem foi submetida a um processo de análise visual e de síntese. Artistas como Braque, na tela Casas em Estaque (1908) ou Picasso em Casas na colina (1909), representou simultaneamente todos os ângulos a partir dos quais observaram o objeto. O conceito de tempo como cronologia dos acontecimentos também foi superado. As imagens eram, portanto, estruturadas e geométricas, a atenção do artista voltada para a forma. As cores geralmente não eram muito vivas e a perspetiva de observação era livre e não retratada diretamente.

A Arte Abstrata foi além da representação da realidade objetiva, transmitida por meio de formas e cores elementares. Alguns artistas, no entanto, trouxeram memórias de uma natureza que pode ser vista entre formas e cores, como na obra de Paul Klee Paisagem com bandeira (1914) ou em Improvisação 9 (1910) de Wassily Kandinsky.

Com o Surrealismo, a paisagem separou-se do que é observável e tornou-se um lugar de significados vinculados, uma visão do mundo do inconsciente, onde tudo parece suspenso no tempo, como na pintura de Magritte O domínio de Arnheim (1962) ou na obra de Salvator Dali, Sem título. Paisagem (1948).

Dentro da arte contemporânea, o movimento mais orientado para a paisagem é a Land Art, onde a natureza se tornou o único protagonista, a obra de arte em si. É tratado de uma forma nova e não convencional: artistas como Christo em Os cais flutuantes (2016), ou Robert Smithson em Epiral jetty (1970), intervêm diretamente na paisagem, modificando-a permanente ou temporariamente, com enormes instalações. Estas obras não podem ser consideradas paisagem no sentido tradicional do termo, mas são certamente o início de um novo olhar sobre ela.

escrito por Maddalena Mongera
traduzido por Delfim Rodrigues

Wikipedia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Paisagem

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